A transposição de rios é muito utilizada desde a antiguidade, mas têm sido intensifica na atualidade devido a escassez de água em algumas partes do mundo, o objetivo das transposições é levar a água para lugares onde esse recurso não é encontrado em abundância, mas para que isso seja possível é necessário a realização de grandes obras com potencial de destruição ambiental muito elevado.
Entre os principais impactos ambientais causados por uma obra desse porte, podemos citar o desmatamento, destruição de habitats, desertificação, surgimento de processos erosivos e também acaba impedindo o caminho que poderia ser utilizado pelos animais para migração.
O desmatamento ocorre pois as obras de transposição, em geral, ocupam muitos hectares de terra para que o projeto possa ser executado, com a perda da fauna e da flora, o processo de extinção de algumas espécies pode ocorrer de forma mais acelerada que o comum. E como consequência da destruição ou alteração dos habitats, o risco para a saúde da população ao redor também aumentam, visto que espécies como aranhas, cobras e escorpiões podem acabar invadindo as residências mais próximas a fim de encontrar um novo local para permanecer e se desenvolve.
Quando uma mata ou qualquer outro tipo de vegetação é separado por construções, como no caso de rodovias com o asfalto e na própria transposição dos rios com o concreto e a água, a biodiversidade da região reduz drasticamente, visto que a região, a partir desse momento, está dividida em duas partes então as interações entre as espécies não ocorrem mais da mesma forma. Além disso, as comunidades aquáticas também são afetadas devido a mudança no curso do rio, principalmente as das bacias receptoras, pois são introduzidas espécies exóticas.
Com o desmatamento, o processo de desertificação pode ser intensificado, principalmente em áreas que já sofrem esse problema, como é o caso do Nordeste brasileiro, além disso, as erosões tendem a ocorrem com maior frequência e cada vez em maior intensidade. Esses são os principais pontos debatidos no caso da transposição do Rio São Francisco, que teve suas obras totalmente finalizadas no ano de 2020.
Nesse projeto, foram construídos dois canais, um para o eixo norte e outro para o eixo leste, que somam a distância de 477 km. A previsão é que 11,6 milhões de pessoas possam ser abastecidas com essa água, mas os impactos ambientais ainda são incertos, pesquisadores dizem que será necessário um acompanhamento contínuo para poder determinar quais serão os problemas causados no meio ambiente, visto que o Rio São Francisco passa por cinco estados brasileiros e possui 2.800 km de extensão, abrangendo diversos ecossistemas.
Os impactos sociais já podem ser observados principalmente nas populações indígenas, cerca de 848 famílias tiveram que ser realocadas para 18 novas comunidades, e nem todas conseguiram se adaptar ainda. As principais reclamações entre as comunidades são a escassez de água para a agricultura e animais, perda da terra, impacto psicológico e depressão e desmatamento de árvores sagradas para indígenas.
O pesquisador André Monteiro, diz que as máquinas da transposição entraram nos territórios indígenas sem que todos fossem avisados. “Eles ouviam só o barulho das máquinas e das árvores caindo, muitos relatam cenário de apocalipse, como se fosse uma invasão de outro mundo”.
Na cidade de Sertânia, uma moradora deu seu depoimento a respeito das obras e como foi abordado o assunto com os moradores, “Passaram aqui dizendo que a obra iria chegar, que seria muito bom. Foi uma coisa de muita alegria, mas que passou a ser de tristeza. Teve desmatamento, a área devastada é muito grande. Tivemos que nos mudar. Tínhamos um açude, era a praia do sertão da gente, mas a água secou” – Rosilene Pinheiro de Sousa.
Atualmente, a água do São Francisco até passa perto de onde a família de Rosilene Pinheiro de Sousa vive em Sertânia, mas está atrás do canal de concreto e não há acesso, como teria em um rio natural, com margens.
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